Usada politicamente como trunfo, a vacina contra o novo coronavírus é uma moeda poderosa em ano de pandemia e eleição. São Paulo, ao que parece, larga na frente ao anunciar segurança e eficácia da vacina produzida pela farmacêutica chinesa SinoVac em parceria com o Instituto Butantan. Os resultados são ideais para a terceira fase de testes com cerca de 50 mil voluntários. Em quase 95% dos casos não houve sintomas adversos e a resposta imune foi positiva.

Entusiasmado, o governador João Dória anunciou que, aprovada, a vacina chinesa, como é chamada pelos seguidores do presidente Jair Bolsonaro, estará disponível para ser aplicada em toda a população de São Paulo no início do ano que vem. Além disso, o Instituto Butantan vai ser capaz de produzir doses dela graças à transferência de tecnologia decorrente do acordo com a SinoVac. Dória garantiu recursos para a construção das instalações e para a compra dos equipamentos necessários, parte deles com o Ministério da Saúde.

Vacinar todo mundo em uma determinada região, contudo, pode não ser um bom negócio. Terminada a terceira fase de testes, e isso inclui todas as produções em andamento até agora, o desafio é verificar a efetividade da vacina, em bom português, o grau de imunidade que ela oferece contra a doença. Como já comentamos aqui, eficácia e efetividade são conceitos diferentes quando se trata de fármacos dessa natureza. A situação agora envolve também estratégias de imunização.

Diretor da Wellcome Trust, uma instituição filantrópica que financia pesquisas científicas, o médico Jeremy Farrar considera essencial a abertura de fronteiras e a cooperação neste momento específico do combate à Covid-19. Segundo ele, a melhor estratégia para conter o vírus é vacinar todas as pessoas que trabalham na área da saúde e em outras áreas consideradas essenciais e as que compõem o grupo de risco. Esse esforço é o que garantira a volta à normalidade.

Farrar faz uma comparação interessante: os países gastam hoje cerca de 500 bilhões de Euros mensais para manter empregos e minimizar os impactos econômicos das medidas restritivas. Para promover uma produção em escala mundial suficiente de vacinas o médico sugere que 35 bilhões de Euros seriam suficientes. Só é preciso que todos se mobilizem para investir recursos públicos numa solução global, ao contrário do que se tem visto na corrida política pela “cura” da pandemia.

Compartilhar os avanços em pesquisa, seja na produção de vacinas ou no tratamento para a Covid-19, é a maneira mais rápida e eficaz de se evitar um colapso ainda maior na economia global. Jeremy Farrar não é o único a dizer isso. Mas o médico considera que imunizar 30% da população, entre profissionais de saúde e outras áreas essenciais, além do grupo de risco, já seria suficiente para a retomada das atividades sem o risco de novos picos epidêmicos.

O SARS Cov-2 já tem seu nome no nosso cotidiano. Assim como o vírus da gripe ou o da AIDS, ele não vai desaparecer, dizem pesquisadores hoje envolvidos com uma tentativa de solucionar os problemas sanitários da pandemia. Mas muito ainda se tem a descobrir. Ao contrário dos investimentos localizados, típicos de políticas eleitoreiras, a crise depende de cooperação. São Paulo só vai garantir imunidade se o Brasil estiver livre da alta incidência de contágio. E o Brasil depende da efetividade de imunização em outros países.

Garantir vacinas eficazes é um passo. Agora é preciso definir estratégias de imunização tão efetivas quanto as doses a serem aplicadas em massa.

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