
Alertas da Organização Mundial de Saúde dão conta de que a desigualdade no processo de vacinação pode prolongar ainda mais o convívio com a Covid-19. As estimativas mostram que o volume de vacinados com a primeira dose é de apenas 12% nos “países de baixa renda”. Ou seja, os países ricos concentram a quase totalidade das doses aplicadas até agora. Para piorar o cenário, a desconfiança sobre a imunidade das vacinas até aqui usadas tem provocado, por um lado, a negação da primeira dose e, por outro, a busca por uma superdosagem não recomendada pelas autoridades sanitárias.
Uma pesquisa recente realizada pela Kaiser Family Foundation nos Estados Unidos mostra que mais da metade dos não vacinados temem mais os efeitos da vacina do que a infecção pelo vírus SARS-Cov-2. O mais drástico do levantamento é que um em cada dez dos pesquisados prefere esperar o resultado das vacinas em outras pessoas. Isso em um país no qual mais de 30% da população adulta ainda não foi vacinada. Por lá, há pessoas procurando os postos de vacinação em sigilo, para não revelar a preferência por imunização em nome de uma boa convivência familiar, profissional ou ideológica com seus pares.
É possível, inclusive, comprar atestados falsos de vacina para evitar problemas com as restrições impostas por empregadores, estabelecimentos comerciais e entidades públicas. Prática também recorrente na Europa e que tem mobilizado investigações e monitoramento para identificar responsabilidades. Nas redes sociais estadunidenses vêm circulando também sugestões para que os não vacinados esperem pela demissão para obter o seguro-desemprego. Medida arriscada, uma vez que os especialistas em legislação trabalhista aconselham o cumprimento da exigência de absoluta maioria dos empregadores quanto à necessidade de imunização contra a Covid-19 para manter-se empregado. Mas, em alguns estados, legisladores republicanos têm articulado a proposição de dispositivos que não permitam a demissão pela recusa de imunizantes contra a Covid.
Não é só no Brasil que o governo vem agindo de forma errática. Mal comparando, Joe Biden tem sido criticado pela falta de medidas efetivas contra a variante Delta e o aumento de casos de Covid no momento em que já se pensava uma vida pós-pandemia. De acordo com a Universidade Johns Hopkins, a variação de casos vem acompanhando os movimentos de relaxamento e restrição das medidas sanitárias e o achatamento da curva pandêmica nos Estados Unidos está longe de se confirmar.
Todos os fatores contribuem para um outro fenômeno que, igualmente, não tem sido tratado adequadamente pelo governo Biden com a devida atenção. Em São Francisco estão autorizadas as aplicações de uma terceira dose de vacina a título de “reforço”. É um procedimento ainda desaconselhado pelas autoridades, a não ser para pessoas com alguma imunodeficiência, mas que ganhou um certo respaldo por conta de um estudo publicado no final de julho – ainda em análise pela comunidade científica – dando conta da eficácia na imunização pela vacina, mas revelando uma pequena perda percentual de proteção à medida que o tempo passa. A própria OMS tem solicitado que não se tome uma eventual dose extra enquanto houver pessoas à espera de uma primeira. Mas as farmacêuticas responsáveis pela vacina nos Estados Unidos dizem o contrário.
O problema é que os casos estão aumentando novamente nos Estados Unidos, especialmente nas escolas. No estado do Missisipi, quase 5 mil crianças, professores e funcionários estão em quarentena por causa de novos surtos. O uso de máscaras, considerando controverso para governadores republicanos, tem sido exigido novamente, mas as políticas mais rígidas sugerem a vacinação de quem ainda não foi imunizado ou a exigência de testes semanais para controlar uma disseminação do vírus em larga escala.
Tem sido difícil, contudo, combater a desinformação e a negação dos fatos a respeito da pandemia. Começam a surgir casos de famílias que conseguem obter informalmente a exclusão da Covid-19 como causa da morte em atestados de óbito. Além de mascarar os dados, como no caso das pessoas que se vacinam escondidas, as autoridades temem um padrão de subnotificações ainda maior porque em alguns estados não há obrigatoriedade de registro das causas prováveis, sem possibilidade de comprovação clínica.
Observar certos padrões no comportamento diante da pandemia, neste momento, indica tendência de continuidade na polarização política pela negação da Ciência e dos fatos, além de uma perspectiva de piora no quadro de controle mundial de novos surtos. A desigualdade econômica e o viés político-ideológico ainda determinam o cenário. Seja aqui ou na maior economia do capitalismo ocidental.
UMA BOA FONTE PARA ACOMPANHAR ESSAS QUESTÕES É A POYNTER.
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